Resenha: Lendas Africanas dos Orixás, de Pierre Fatumbi Verger

Na minha ultima passagem pela Livraria Cultura, um livro de capa amarela chamou minha atenção. Folheei, gostei do que vi, mas o preço não era muito amigável. Não comprei e resolvi pesquisar na internet (porque geralmente costuma ser mais barato), mas a "facada" era ainda maior. Por sorte achei em PDF. Resolvi abrir uma exceção, já que tem poucas páginas, e li online mesmo. Vou tentar detalhar abaixo o que faz esse livro ser tão especial.


Editora: Corrupio
Edição: 4 / Ano: 1997
Páginas: 95
☆☆☆☆

Sinopse: Histórias iorubás compiladas pelo autor, mestre em cultura negra e adivinho babalaô. Contém belas ilustrações de Carybé.
Um babalaô me contou:"Antigamente, os orixás eram homens.
Homens que se tomaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tomaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa da sua força,
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tomaram-se orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra.
Antigamente, como hoje,
Muitos deles não eram valentes nem sábios.
A memória destes não se perpetuou.
Eles foram completamente esquecidos;
Não se tomaram orixás.
Em cada vila, um culto se estabeleceu
Sobre a lembrança de um ancestral de prestígio
E lendas foram transmitidas de geração em geração,
Para render-lhes homenagem".
O livro, como o próprio titulo diz, é um conjunto de lendas recolhidas e anotadas por Fatumbi (nome dado a Pierre Verger dentro da religião africana), a partir das narrativas de babalaôs. Uma leitura interessante para conhecer os Orixás de forma mais humana, enquanto ainda eram seres como nós e andavam por essa terra.

Começa com uma lenda de Exu, onde conhecemos seu temperamento e como agradá-lo. Já sobre Ogum, também conhecemos seu temperamento, mas também como se tornou orixá.
Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência, e disse que já viverá bastante, que viera agora o tempo de repousar. Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra. Ogum tornara-se um orixá.
Seguimos conhecendo Oxossi e a origem do seu nome, como Enrilê se transformou em rio, aprendemos sobre Ossain, o senhor das folhas, e sobre a origem de Orixá Okô. Sobre Oranian, pai de Xangô, tomamos conhecimento de seu nascimento peculiar, e também conhecemos o temperamento de seu filho mais velho, Baayani.
Se Baayani não é capaz de brigar, ele tem um valente irmão caçula.
Se alguém resmungar qualquer coisa sobre Dada Baayani, isso lhes causará desgostos. Pois se trata de meu irmão mais velho.
Sobre o próprio Xangô, conhecemos seu temperamento, a origem de sua saudação e sobre suas mulheres: Iansã, Oxum e Obá. Vemos também como Iansã conheceu Ogum e o temperamento de Oxum. Sobre Obá, lemos sobre sua força, todos que derrotou, como virou esposa de Ogum e sua rivalidade com Oxum pelo amor de Xangô.
Também lemos sobre os filhos de Iemanjá, seu casamento e como foi para o mar de onde nunca mais quis sair. Sobre Olokum, mãe de Iemanjá, sabemos como se tornou rainha das águas. Seguimos lendo como Oxumaré se tornou rico e respeitado.
Nesta época, Olodumaré, o deus supremo, aquele que estende a esteira real em casa e caminha na chuva, começou a sofrer da vista e nada mais enxergava. Ele mandou chamar Oxumaré e o mal dos seus olhos foram curados. Depois disto, Olodumaré não deixou mais que Oxumaré retornasse à Terra. Desde este dia, é no céu que ele mora e só tem permissão de visitar a Terra a cada três anos. É durante este ano que as pessoas tornam-se ricas e prosperas.
De Obaluaê conhecemos a origem do seu nome e da sua saudação. De Nanãburuku, a rivalidade com Ogum. De Oxaguiã, a origem do nome e um dos costumes mantidos até hoje em seu nome. E no final, em Oxalufã, é explicada a origem do ritual "Águas de Oxalá", e também sobre a lavagem da basílica do Senhor do Bonfim.

Cada parte de um orixá é seguida de sua respectiva saudação, uma pequena introdução e já engata na lenda. É um livro para apreciar origens, historias, mas não um intensivo sobre a religião. Se você tem curiosidade sobre práticas, é preferível que procure um livro mais específico, ou visite uma casa para ter o conhecimento direto de um Babalorixá ou Yalorixá.
É uma leitura rápida, porém muito rica, especialmente pelas ilustrações de Carybé, sempre muito expressivo, que mostra com sensibilidade informações etnográficas e a magia dos orixás. Algumas lendas já são bem conhecidas, outras nem tanto. Mais um ótimo trabalho que vem para desmistificar e derrubar preconceitos, bem como exaltar a cultura iorubá, tão presente em nossa cultura.

Edit: Li em PDF, mas depois adquiri o livro fisico. É uma aquisição que vale a pena ter na estante.

Até a próxima!

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