Resenha: Marcoré, de Antônio Olavo Pereira
Ficamos alguns dias sem resenhas, mas durante esse tempo acumulei muitas leituras e irei liberando aqui aos poucos. Seguindo a ordem que li, a resenha de hoje será sobre Marcoré, obra de Antônio Olavo Pereira. Mais uma leitura nacional que surpreendeu. Vamos ver?!
Editora: José Olympio
Edição: 0 / Ano: 1974
Páginas: 199
☆☆☆☆
O livro é narrado em primeira pessoa, pelo personagem principal que é o oficial maior de um cartório em uma cidade pequena. Curiosamente, não sabemos seu nome. Sabemos apenas, além de seu cargo, que é casado com Silvia, mora com os sogros, e mantém uma relação difícil com sua família, especialmente com sua mãe. Só se entende bem com Claudia, sua irmã do coração, e com o sogro, Seu Camilo, a quem admira. O narrador mostra-se, inicialmente, insensível e egoísta, o que tenta justificar com seu ofício. Afinal, ele lida com a vida das pessoas daquela cidade. Ninguém morre ou nasce sem passar pelo cartório.
Mas o desenrolar do livro deve-se a uma notícia inesperada que recebemos logo nas primeiras páginas: Silvia está grávida após dez anos de casamento e muitas tentativas frustradas. As inquietações e questionamentos do nosso narrador passam a ser em torno desse ser que está sendo gerado de forma tardia, que pode mudar seus hábitos já bem acomodados, bem como a rotina de toda casa.
Talvez eu vá arranjar problemas para o meu filho. Basta este que lhe transmito - o de viver.
Sinto Marcoré como se fora, não obra minha, mas meu criador.
Tudo isso faz parte da primeira parte do livro. Na segunda parte temos o nascimento de Marco Aurélio, que tem o seu nome diminuído carinhosamente para Marcoré. Como imaginava nosso narrador, a chegada da criança mudou tudo, encheu a casa de alegria, transformou a todos, principalmente o pai. Mas a história, que tinha tudo para seguir de forma feliz, muda radicalmente quando um ato impensado de Silvia coloca em jogo seu casamento. E a cada decisão tomada a seguir, tudo parece só piorar.
Os personagens de Antônio são simples, mas ricos. Com facilidade consegui imaginá-los em minha rotina, bem como as cenas em que estão inseridos. É quase palpável a ideia de uma vida pacata, dividida entre casa, trabalho e uma conversa preguiçosa em banco de praça. Ao mesmo tempo, os conflitos que existem por trás da aparente calmaria. É um livro de fácil leitura, mas que carrega certa carga emocional. Dá pra sentir a solidão do nosso narrador.
O coração do homem é uma estrada que só Deus conhece.
Aprendi que é fácil fugir às indagações de olhares estranhos, mas que é duro enfrentar as que nos propomos face a face.
Antônio Olavo Pereira nasceu em Batatais (SP), em 05/02/1913. Começou a escrever depois dos 20 anos, colaborando em diversas revistas cariocas. Seu primeiro trabalho foi uma crônica vazada em estilo convencional. Trabalhou na biblioteca de São Paulo. Não tendo sido renovado seu contrato de funcionário público, iniciou a vida profissional na Livraria José Olympio Editora como auxiliar de revisão, para mais tarde associar-se a seus irmãos na parte diretiva, sendo um dos responsáveis pelo departamento editorial. Seu primeiro livro, publicado aos 37 anos, foi a novela Contra-Mão, com quem venceu o Prêmio Fábio Prado de 1949. Seguiu-se Marcoré, em 1957 e em 1965 publicou o seu terceiro romance, Fio de Prumo. Seu último trabalho foi Uma Certa Borboleta Azul, dedicado ao público infantil. Faleceu em 1993.
Como disse no início, foi uma leitura nacional que realmente surpreendeu. Vou seguir lendo obras que olho meio torto, e desejo que todas sejam tão boas assim.
E você, anda se surpreendendo com as leituras?
Até a próxima!
Vi esse livro na loja Americanas com preço ótimo, mas fiquei com receio de comprá-lo. É difícil achar alguma resenha sobre ele, a única que encontrei foi esta e gostei. Vou voltar na loja para comprar. Depois volto para dizer se gostei.
ResponderExcluirEu nem imaginava que tivesse uma edição mais atual dele, mas fico feliz em saber. Espero que tenha gostado da leitura :)
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