Resenha: Olha Para o Céu, Frederico! de José Cândido de Carvalho
Essa é mais uma leitura da série "não queria ler, mas fui surpreendida". Olha Para o Céu, Frederico! mostrou-se muito inteligente e fluiu com naturalidade. Vamos lá?!
Editora: José Olympio
Edição: 1 / Ano: 1974
Páginas: 133
☆☆☆
Sinopse: Romance de estréia de José Cândido de Carvalho, escrito em 1939. Na trama, Eduardo de Sá Meneses é neto do barão da Pedra Lisa, senhor do engenho do açúcar, que construiu sua fama graças à moagem de cana, origem da fortuna da família no século XIX. Uma polêmica na imprensa o motivou a escrever a história de seu tio Frederico Meneses, com quem morou na adolescência na fazenda São Martinho, principal concorrente da São José, do primo Quincas de Barros. A rivalidade entre as duas fazendas, o romance proibido com a tia, o envolvimento com a política e o orgulho dos barões são detalhados pelo sobrinho, cuja trajetória é contada por José Cândido com humor e estilo literário envolventes.
Ao sair um texto na imprensa cobrindo de elogios Frederico, antigo dono do engenho São Martinho, seu sobrinho, Eduardo, sente-se incomodado por discordar da historia contada. A partir daí ele nos mostra quem era realmente Frederico, bem como os demais que fizeram parte da sua vida. Temos então a visão de Eduardo, um menino órfão, mas com a análise do Eduardo adulto.
Antes de morar com Frederico, Eduardo morava com outro tio, de quem ouvia historias grandiosas de parentes nobres, donos de terras, que construíram fama e fortuna. Ao ir morar com Frederico, não reconhece no tio a mesma postura grandiosa tão familiar. Frederico é passivo, toca a vida de forma simples, sempre na mesma rotina, sem ambição, fazendo vista grossa aos insultos recebidos. O que Eduardo não percebia aos quinze anos, mas constata em sua narração, é que o tio era um grande estrategista. Sempre solícito, sempre ajudando os mais próximos, fazendo com que ficassem em suas mãos, e aos poucos conseguindo tudo que queria e ampliando seus negócios. Com o falecimento de Frederico, Eduardo recebe uma boa parte da herança, mas mostra que o tempo vivido no engenho de nada adiantou. Nada aprendera com o tio. O que ficou foi o orgulho dos antepassados, que o torna arrogante e descuidado.
O livro tem um ritmo muito bom, muito gostoso. Embora seja uma forte crítica as famílias usineiras, decadentes, que vivem de nome, que pouco se importam com os funcionários que são mantidos quase no mesmo regime dos escravos, a leitura não é cansativa. José Cândido conseguiu dosar muito bem crítica e humor, e o resultado foi uma leitura leve.
Outro ponto que me fez gostar do livro foram as figuras de linguagem adotadas pelo autor. Maneiras diferentes e inteligentes de descrever situações. Destaco algumas abaixo:
Quem visse Frederico assim de fala mole, com miséria nas conversas, era capaz de acreditar num São Martinho encalhado, de rodas mortas, com ninho de rato nas fornalhas. Conheci e vi morrer meu tio com esses lamentos que só acabaram quando sua boca se fechou vazia de palavras.
Tanta gentileza acabou por trazer Dona Lúcia para a cama de Frederico. Os parentes é que não viam nada. Só olhavam a velhice de meu tio, a plantação que podia nascer em sua testa.
Era alto como vela de promessa.
O título do livro faz referência a fala de um padre amigo de Frederico, que sempre o visitava e se mostrava preocupado com sua vida apegada as coisas terrenas. Falava para Frederico olhar para o céu, para estar mais perto de Deus e das coisas divinas.
José Cândido de Carvalho nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) em 05/08/1914. Foi advogado, jornalista e escritor, mais conhecido como o autor da obra "O Coronel e o Lobisomem". Seu primeiro romance foi "Olha Para o Céu, Frederico!", publicado em 1939 pela editora Vecchi. Quando morreu trabalhava em seu terceiro romance, "O Rei Baltazar", que deixou incompleto. Faleceu em 1989.
Mais uma leitura concluída. A meta para esse ano é 57, e pretendo resenhar todos aqui. Será que consigo? E você, o que anda lendo? Qual sua meta literária para esse ano?
Até a próxima!