Livro de Quinta: Mafuá do Malungo, de Manuel Bandeira

A tag "Livros de Quinta" não visa desmerecer nenhuma obra ou autor. É apenas uma forma de falar sobre livros que não me agradaram, mas espero fazer isso com muito respeito.

O primeiro a entrar na berlinda é Mafuá do Malungo, do Manuel Bandeira. Em 2014 um antigo chefe resolveu se desfazer de parte de sua biblioteca, e foi assim que consegui essa edição bem velhinha. Desde então prometo ler e só enrolo. Deveria ter enrolado mais. Esse é o primeiro livro do Bandeira que leio, e sinto que comecei errado.


Editora: Livraria São José
Edição: 2 / Ano:1954
Páginas: 120
☆☆

Lançado originalmente em 1948, Mafuá do Malungo parece ser algo bem íntimo, feito para poucos. É dividido em quatro partes: Jogos Onomásticos, Lira do Brigadeiro, Outros Poemas e A Maneira De. Vou tentar descrever da forma mais breve possível o que eu vi nas 120 paginas. Mas antes vamos ver o significado do título, que, pelo menos pra mim, era incompreensível.

Mafuá do Malungo: Mafuá - feira popular de diversão. Malungo - 1. camarada, companheiro, parceiro. 2. forma como se tratavam escravos africanos vindos da África na mesma embarcação. Sendo assim, temos um livro com base na amizade, visando distribuir afeto.

Precisei pesquisar "onomásticos" também, e descobri que é o estudo de nomes próprios. E é isso que Bandeira faz em boa parte do livro, poemas onomásticos, versos inspirados em nomes de amigos, pessoas que ele admirava, em datas especiais como aniversários, nascimentos, e também em dedicatórias de livros. Nunca li nada de Bandeira além de trechos soltos pela internet, mas mesmo assim percebo um contraste entre o que li por aí e esse livro. As rimas são simples, bobas, e nos dá a impressão de um poeta amador. O que pretendia Manuel Bandeira ao se mostrar dessa forma? Rir de si mesmo?
O sentimento do mundo
É amargo, ó meu poeta irmão!
Se eu me chamasse Raimundo!...
Não, não era solução.
Para dizer a verdade,
O nome que invejo a fundo
É Carlos Drummond de Andrade.
Entre as prendas afetuosas, temos também um pouco de política em "Carta-poema", onde Bandeira cobra do prefeito o calçamento da via pública. Como nada foi feito, ele volta a cobrar o calçamento ao novo ocupante do cargo maior da cidade em "Petição ao Prefeito". 
É um pátio, mas é via pública,
E estando ainda por calçar,
Faz a vergonha da República
Junto à Avenida Beira Mar!
Indiferentes ao capricho
Das posturas municipais,
A ele jogam todo o seu lixo
Os moradores sem quintais.
Que imundície! Tripas de peixe,
Cascas de fruta e ovo, papéis...
Não é natural que me queixe?
Meu Prefeito, vinde e vereis!
Mas se tem algo que fez essa leitura valer à pena, foi o poema "Auto-retrato". Nele Bandeira se mostra pequeno, "poeta ruim", "cronista de província", "arquiteto falhado, "músico falhado", dentuço... Só se mostra bom em ser doente, "tísico profissional". E mais uma vez vem à questão: estava Manuel Bandeira a rir de nós, por acreditar nesse retrato mal pintado, tendo em vista que ele é um dos melhores escritores do século XX, membro da Academia Brasileira de Letras? Ou estaria rindo dele mesmo, por saber de sua grandeza e, mesmo assim, se mostrar tão pobre em tudo? Ou será que era assim que ele se via de verdade?
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, musico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
Lendo mais uma vez esse poema enquanto o transcrevo aqui, lembro de Fernando Pessoa, quando disse "O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente". Talvez seja assim que devamos encarar Mafuá do Malungo, como fingimento do autor, e ler com leveza, sem grandes expectativas.

Até a próxima!

4 comentários:

  1. Bandeira é um ótimo poeta, mas "Mafuá do malungo" não é sua melhor obra.

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    1. Resumiu muito bem o que penso. Esse foi o único livro dele que li ate o momento, mas já li algumas coisinhas avulsas e sei que ele é bom. Tenho outro livro na fila de espera, e estou bem ansiosa. Mafuá do Malungo me decepcionou, mas não o suficiente para desistir do Bandeira.

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  2. Realmente você não começou pelo certo, kkkkk. Recomendo "Libertinagem", "Belo Belo" e "Estrela da Tarde".

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    1. E se eu disser que já li Libertinagem e Estrela da Tarde e não curti? xD

      Não chegou a ser ruim para virar um Livro de Quinta, mas também não foi bom o suficiente para que eu queira ler outras coisas do Bandeira.

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