Cinema: Elis - O Filme

Não tenho acompanhado muito os lançamentos do cinema desde que me decepcionei com "Como Eu Era Antes de Você", e acabo não assistindo muita coisa, ou só assistindo muito tempo depois. Mas Elis era um filme que eu queria muito ver. É até engraçado, porque ela não é uma das minhas cantoras favoritas, e eu praticamente não sei (não sabia até assistir) nada sobre a vida dela (só sei que é mãe da Maria Rita). Mas a caracterização da Andréia Horta pareceu muito boa na divulgação, e eu acho que o cinema nacional tem feito ótimos trabalhos, principalmente com biografias. Foi basicamente isso que me levou a ver o filme, mas o resultado foi muito melhor do que eu deduzi nas imagens de divulgação.


Devo dizer que nunca fiz resenha de filme, e talvez eu solte algum spoiler (se é que ainda pode ser considerado spoiler). Então se você não assistiu, não sabe nada sobre Elis, e que ser surpreendido pelo filme, assista e depois volte aqui pra gente debater, tá?

O filme é uma biografia da cantora Elis Regina, conhecidíssima pelo seu talento, temperamento forte (por isso o apelido de Pimentinha) e seu fim trágico. A historia começa com Elis jovem, chegando ao Rio de Janeiro, e vai até sua morte em São Paulo. Diferente da maioria das biografias, Elis é interpretada do início ao fim por uma única atriz, a Andréia Horta. Achei uma decisão acertada, já que Elis morreu relativamente jovem.

Temos no filme os pontos mais marcantes da vida de Elis Regina, como a chegada ao Rio de Janeiro, o programa de TV ao lado do Jair Rodrigues, os casamentos, as separações, apresentação em Paris, suas declarações polêmicas e a pressão do regime militar. Sabemos que em um filme não dá pra contar uma vida de forma 100% fiel, e por isso acho certo se apegar aos pontos principais para conduzir o roteiro. O problema fica por conta das conexões entre os acontecimentos. Tudo acontece muito rápido. Não há tempo para pensar sobre X situação, porque em um minuto já estamos em outra situação. Essa pressa em contar o que houve de mais importante acaba deixando alguns furos. Não vemos, por exemplo, a família de Elis, ou nada que represente sua infância, seu início na música ainda na sua cidade. Conhecemos apenas seu pai, que aparece chegando com ela ao Rio, e ele só volta a aparecer, rapidamente, no fim ao receber a noticia da morte da filha. Também acho que os filhos ficaram um pouco de lado nessa produção, especialmente os filhos do segundo casamento com Cesar Mariano.

Um ponto muito delicado e importante do filme é a censura do regime militar. Vemos Elis sendo questionada em Paris sobre a situação do Brasil e sua declaração polêmica, por chamar os militares de gorilas, acaba causando um grande problema. Elis é interrogada, pressionada, ameaçada, seguida, fazem menção sobre a segurança do seu filho para coagi-la, e por medo ela acaba sendo obrigada a cantar em um evento militar. Muita gente que lutava contra o regime militar não entendeu e passou a hostilizar a cantora. Destaque para a cena em que ela é vaiada em um show enquanto canta "Cabaré". Os versos "Ah, quem sabe de si nesses bares escuros/Quem sabe dos outros, das grades, dos muros/No drama sufocado em cada rosto/A lama de não ser o que se quis" gritados para a platéia que vaia provoca bastante emoção. Não é mostrada nenhuma cena de violência envolvendo militares, mas dá pra sentir como a situação era difícil.

Após alguns goles de whisky e pouco foco nas drogas, o desfecho de Elis é o que todos nós já sabemos. Os minutos que antecedem a cena da morte são de muita angústia. Elis parece perdida. Sabia o que não queria, mas parece que isso não bastava. A gente precisa saber o que quer. Somos cobrados sempre por isso. Não é permitido ser confuso. Não é permitido falhar. Elis afunda nisso e não consegue mais tornar a superfície. No fim eu esperei por comoção, alguma mensagem saudosista, mas a cena foi como é na vida real. Apenas acaba. Abruptamente. Uma vida interrompida aos 34 anos.

Por fim, a caracterização ficou impecável. Andréia Horta encarnou a Elis de forma incrível. A risada, o timbre, os trejeitos, tudo muito parecido. O Caco Ciocler como César Camargo Mariano, o Gustavo Machado como Ronaldo Bôscoli (que achei muito mais parecido do que o Mateus Solano na minissérie "Maysa") e o Lúcio Mauro Filho como Miéle, também estão ótimos. Se você fizer uma pesquisa rápida no Google pra ver como era essa galera jovem, verá que a aparência ficou bem próxima. E o comportamento, embora mais simples, também não teve grandes falhas.

No resumo, é um filme bom. Apresenta os fatos com respeito e fidelidade. Para quem não conhece a vida de Elis Regina, como eu, o filme é legal e cumpre seu papel de apresentar a cantora. Enquanto escrevia lembrei que tenho uma biografia dela na estante, e ver o filme só aumentou minha vontade de ler. Acho que o cinema nacional tem feito um bom trabalho com biografias, e Elis com certeza é um deles.

Até o próximo texto!

11 comentários:

  1. Uauu... Lene querida, quando li no perfil do Instagram do BL que seria um comentário "básico" sobre o filme Elis, eu pensei que realmente seria um simples e básico comentário. Porém, com certeza foi um cometário objetivo é cheio de domínio, como é bom se surpreender. Já estava querendo assistir o filme, e depois desse post aí, com certeza irei assistir o mais breve possível. Estou bem decepcionada a algum tempo com as pessoas que vão assistir filmes nos cinemas e ficam gritando, até entendo nas estreias e pré estreias. Porém, pagar para assistir um filme em um dia normal e ter pessoas gritando é demais para minha paciência. Então, tenho perdido vários filmes e por não ter pc para baixar filmes novos e com boa qualidade, acabo acumulando para quando der para assistir. Enfim, realmente gostei bastante do seu post sobre o filme, parabéns e que seu blog cresça a cada dia mais. #GanhouUmaLeitoraFixa 💙

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    1. Que bom que gostou, Joane!
      Eu falo muito, pode dizer, rs... Realmente, ir ao cinema virou um teste de paciência. Anda faltando bom senso.
      Obrigada por todos os elogios <3
      Beijo!

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  2. Nossa, adorei seu comentário. Parabéns!

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  3. Sinceramente, não vi o filme pra depois voltar; já li seu post direto mesmo! rs Pelo que você contou, o filme é muito emocionante. Quando o vir, lembrarei do seu relato! Parabens pelas palavras. ^^

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    1. Obrigada, Isis :)
      Sim, o filme tem bastante emoção. Vale a pena ver a Elis que cria vida no vídeo.
      Beijo!

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  4. Olá! Para começo de conversa. Sou fã da Elis. Ainda não vi o filme, mas quero muito assistir. Parabéns pela resenha. bjs

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    1. Olá!

      Eu não conhecia muito sobre a Elis, mas estou virando fã também.

      Obrigada!

      Beijo!

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  5. Olá!
    Que resenha maravilhosa!
    Sou fã da Elis. Uma das maiores e melhores interpretes brasileiras. Sua paixão e entrega eram sublimes e eu me emociono SEMPRE quando assisto uma apresentação dela.
    Ainda não assisti ao filme, mas está em minha lista, certamente, mesmo tendo visto opiniões controversas sobre a obra cinematográfica (não que isso seja decisivo em minha escolha de ver ou não). Mas senti que você absorveu a história e transcreveu sua experiência de forma bastante honesta e sensível e eu gostei disso.

    Quando ler a biografia, volta aqui e faz resenha! haha

    Beijos!

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    1. Obrigada!

      Eu sabia pouquíssimo sobre Elis até ver esse filme. Apenas duas ou três músicas. Agora estou absorvendo tudo que posso dessa mulher maravilhosa.

      Eu também li comentários ruins sobre o filme. Vi critica que dava apenas duas estrelas. Acho isso uma sacanagem. O filme tem suas falhas, mas não deixa de ser um bom trabalho. Assim que puder, assista.

      Vou resenhar a biografia também, pode deixar :)

      Beijo!

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  6. Lene, estou com muita vontade de ver esse filme e sua resenha só aumentou minha vontade. Sou fã das músicas de Elis, cresci escutando, e poder conhecer mais sobre sua vida, será incrível. bjoo

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