Resenha: Azul é a Cor Mais Quente, de Julie Maroh

Uma bela noite estava entediada em frente à TV, quando vi na programação "Azul é a Cor Mais Quente" (A Vida de Adèle/La Vie d'Adèle). Já tinha ouvido falar porque as cenas de "sexo explícito" repercutiram bastante, então resolvi assistir. Nossa, que filme! Aí fiquei sabendo da HQ que inspirou o filme e tive um desejo enorme de ler. Li, e agora só consigo amar essa história ♡


Editora: Martins Fontes
Edição: 1 / Ano: 2013
Páginas: 160
☆☆☆☆

Sinopse: Clementine é uma jovem de 15 anos que descobre o amor ao conhecer Emma, uma garota de cabelos azuis. Através de textos do diário de Clementine, o leitor acompanha o primeiro encontro das duas e caminha entre as descobertas, tristezas e maravilhas que essa relação pode trazer. Em tempos de luta por direitos e de novas questões políticas, Azul É a Cor Mais Quente surge para mostrar o lado poético e universal do amor, sem apontar regras ou gêneros.

Sim, não existe Adele, e sim Clementine e Emma. Se formos seguir comparando com o filme, o início e o final são beeeem diferentes. No início da HQ vemos Emma chegando à casa de Clementine e lendo seus diários. Nas três primeiras páginas somos guiados pela carta que Clementine deixou, e por aí já sabemos que ela morreu (isso não é spoiler). Todo o resto é bem parecido com o filme.

Clementine tem 15 anos, está no colégio e descreve suas amizades como "fortes e ternas". Ela conhece um rapaz chamado Thomas e, por insistência das amigas, acaba marcando um encontro com ele. Indo ao encontro, ao atravessar a rua, uma moça de cabelos azuis chama sua atenção. Ela encontra Thomas, eles se divertem, mas seu pensamento ainda está na moça de cabelos azuis. Na hora de dormir seu pensamento ainda está na moça de cabelos azuis, e Clementine sonha com ela, de um jeito que mulheres "não podem" sonhar com mulheres. Clementine descreve o que está sentindo como nojento e estranho. Na tentativa de fugir disso, de ser "normal", ela inicia um relacionamento com Thomas que dura seis meses, mas acaba percebendo que não quer estar com ele, não quer dormir com ele, e termina tudo. Nesse momento ela se sente perdida, sozinha, agindo contra a própria natureza, e não sabe o que fazer. Em uma saída com seu amigo Valentin, Clementine vai a um bar lésbico e lá encontra a moça de cabelos azuis, que se aproxima dela e se apresenta como Emma. A partir daí Clementine começa a descobrir e viver o amor.
Só o amor pode salvar o mundo. Por que eu teria vergonha de amar?
Mas amar nem sempre é fácil, principalmente em um mundo de pessoas preconceituosas. Para viver seu amor, Clementine sofre preconceito dos amigos, dos pais, e seu próprio preconceito também. Ela acha vergonhoso o que sente. Tem o fato de Emma já namorar outra pessoa, tem a diferença de idade, a dificuldade de falar o que se sente, de tomar atitudes, a forma que cada uma lida com a sua sexualidade... Enfim, não é simplesmente uma historia bonitinha de amor. Por enfrentar tudo isso tão nova, Clementine amadurece rápido demais. Sua realidade não condiz com seus sonhos. O tempo passa, seu relacionamento com Emma continua, mas vemos que não é fácil viver a dois.
E pouco a pouco eu entendi que os caminhos para amar são múltiplos.
Os desenhos da HQ são lindos, perfeitos em descrever cada momento. Os desenhos são "sujinhos" (não sei se existe um termo certo para esse estilo), e eu gostei bastante. Na primeira parte, na adolescência e descoberta de Clementine, tudo é em tom de cinza. Apenas o cabelo azul de Emma se destaca, ou outros itens em azul. Engraçado que azul é uma cor fria, mas dentro desse contexto torna-se uma cor quente. É o azul que traz a felicidade de Clementine, que movimenta sua vida. Já na segunda parte, quando as duas passam a viver juntas, tudo é colorido, e o cabelo de Emma volta a sua cor natural, o loiro. Não há mais destaque para o azul porque Clementine não é mais uma simples adolescente apaixonada pela moça de cabelo azul. Agora ela é uma mulher vivendo um relacionamento de verdade. É o amadurecimento, de ambas.



Azul é a Cor Mais Quente não é apenas um livro lésbico, não é apenas sobre sexo entre mulheres, e isso serve para o filme também. É sobre crescer, se descobrir, fazer escolhas, errar, e principalmente arcar com os atos. É uma historia de amor fora dos padrões, e é, acima de tudo, uma historia de amor real. Em tempos de intolerância, uma leitura necessária.

Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.

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