Resenha: Wonder Women, de Sam Maggs

Que livro maravilhoso! Sim, não consigo começar essa resenha de outra forma que não seja já tacando um elogio. Há muito tempo eu não lia nada tão bom e tão rico em conteúdo.

Esse ano, no dia da mulher, li em algum lugar sobre a falta de autoras nas nossas estantes. Na hora refutei esse dado. Como assim? Eu leio muitas autoras – foi o que pensei. Mas a matéria também propunha um desafio de enumerar dez autoras, e foi nesse ponto que comecei a ter noção de que não lia tantas mulheres. Não satisfeita, contei todos os meus livros separando por gênero, e o resultado foi: 181 títulos escritos por homens, contra apenas 86 títulos escritos por mulheres. E foi assim que eu decidi ler mais mulheres. Então imagina a minha alegria ao receber Wonder Women, escrito por uma mulher, ilustrado por uma mulher, e recheado de mulheres que fizeram e ainda fazem a diferença por aí ♡


Editora: Primavera Editorial
Edição: 1 / Ano: 2017
Páginas: 240
☆☆☆☆☆   ♡

Sinopse: Pense no quanto alguém é capaz de alcançar quando tem à disposição todos os recursos e o apoio de que precisa para desenvolver plenamente suas habilidades. Agora pense no quão especial alguém deve ser para conseguir os mesmos resultados quando nada ao redor conspira a seu favor. Em “Wonder Women”, o leitor conhecerá mulheres além de seu tempo. Pessoas brilhantes, que se recusaram a se acomodar no papel de coadjuvantes e foram à luta, tornando-se protagonistas de sua própria vida. Cientistas, engenheiras, matemáticas, aventureiras e inventoras cujos feitos mudaram os rumos da história.

Preciso começar corrigindo uma informação, porque o livro não fala de 25 mulheres inovadoras, inventoras e pioneiras. O livro na verdade fala de 60(!!!) mulheres, e conta com cinco entrevistas com mulheres da atualidade. As 25 mulheres que o subtítulo informa são aquelas que têm maior destaque. O livro é dividido em cinco capítulos: Mulheres da Ciência, Mulheres da Medicina, Mulheres da Espionagem, Mulheres da Inovação e Mulheres da Aventura. Nesses capítulos vamos conhecer, por exemplo, a primeira progamadora de computadores, a mulher que descobriu o tratamento para hanseníase, a única mulher admitida no Grande Exército da República, a primeira mulher a quem foi concedida uma patente nos Estados Unidos, e a primeira aviadora negra do mundo.
Representatividade é importante. Críticos usam essa frase o tempo todo. Nós dizemos isso para enfatizar o fato de que todo mundo – não importa o gênero, sexualidade, raça, habilidade nem nenhuma parte de sua identidade – merece se identificar com personagens nas páginas e nas telas. Por quê? Porque quando a mídia estiver repleta de heróis diversos, toda garota, inconscientemente, aprenderá que ela também pode ser a estrela da história, que o status de "herói" não está reservado para pessoas que se pareçam com o Superman, que ela não está presa em uma condição de donzela em apuros. Se ela quiser derrotar o inimigo, salvar o dia ou salvar a sim mesma, ela pode.
Ler esse livro me causou alegria e tristeza. Alegria por saber que centenas de anos atrás mulheres brigavam por sua liberdade, por seus direitos, e graças a isso hoje nós podemos ir à faculdade e ocupar cenários que antes eram só masculinos. A tristeza veio pelas injustiças, pelos constrangimentos, que ainda faz parte do nosso cotidiano. Imagine que você estudou muito e começou a trabalhar em algo difícil, que exige horas de sono e lazer comprometidas para ser concluído. Então você finalmente termina, e está feliz e ansioso para apresentar o seu trabalho ao mundo. Mas chega um espertinho, muda uma vírgula ou duas, ou até mesmo não muda nada, apresenta seu trabalho e ganha todo o crédito, todos os cumprimentos e pagamentos também. É revoltante, não é mesmo? Mas isso acontecia com frequência. Muitas mulheres desse livro não são amplamente conhecidas graças a atitudes como essa. E tinha os casos das mulheres negras também, que acabavam deixando que homens apresentassem suas invenções por medo que a classe branca não quisesse usar ao saber que a ideia veio de uma pessoa de cor.
O gradual desenvolvimento da igualdade profissional e jurídica das mulheres só pode ser devidamente compreendido se a pessoa se lembrar de quantos costumes aceitos tiveram de ser superados na luta para a emancipação das mulheres.
A escrita da Sam é muita gostosa. Ela inseriu comentários pessoais no texto, o que resultou em uma leitura muito leve. Agora junte isso a uma diagramação bonita e ilustrações super fofas de Sophia Foster-Dimino, e assim temos um livro perfeito. Leitura necessária para todos os gêneros e idades.
"Quando a mulher quiser aprender alguma coisa ou fazer alguma coisa de útil ou até mesmo se divertir que seja, sempre haverá alguém para solenemente a avisar de que é seu dever se manter bem. Ao mesmo tempo em que, em muitos estados, a mulher pode trabalhar em fábricas dez horas por dia, pode ficar em pé atrás de balcões das 8h às 6h, pode ficar curvada sobre a máquina de costura por cerca de cinco centavos por hora e ninguém nem se importa o bastante para protestar contra nada disso. Porém, quando essas mesmas mulheres, condenadas a vidas sedentárias dentro de casa (ou no trabalho), encontram uma forma barata e prazerosa de conseguir o ar fresco e o exercício de que tanto precisam, eis que se faz um grande alarde em relação ao bem-estar físico dela. (Artigo do Chicago Daily News, de 1894, intitulado "A Mulher e sua Bicicleta", sobre a perseguição contra mulheres que usavam bicicleta. A mídia retratava a Nova Mulher como entediante, feia, masculina, intimidadora, que odeia homens – meio que parecido com a forma como as feministas são difamadas hoje. Críticos – isto é, homens – temiam que a bicicleta fosse sexualmente estimulante para as mulheres, ou que pudesse causar questões adversas de saúde. Os bloomers que facilitavam andar de bicicleta eram "escandalosos" e "uma abominação", e as mulheres eram presas por usá-los nas ruas.)
O livro conta com um apêndice onde Sam indica organizações para que mulheres possam expandir seus horizontes na ciência, tecnologia e além. Infelizmente nenhuma dessas organizações é no Brasil. Mas isso não é problema para nós, certo? Em tempos que não havia perspectiva, nem internet, mulheres arregaçaram as mangas e abriram caminho para nós. Se você deseja fazer algo, estude, busque oportunidades, encontre força na dificuldade. Não é fácil. Nunca foi. Mas é possível. Nós podemos. 

Obs.: Ficarei devendo fotos das ilustrações porque decidi não falar ou mostrar nenhuma mulher. Acho que todas merecem destaque. Então deixarei para vocês descobrirem as ilustrações lindas ao lerem o livro :)

Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.

2 comentários:

  1. Eu já ia falar isso, cadê as ilustrações? rsrsrs... que bom que você explicou rsrsrs... Adorei a resenha Le! Simples e direta ao ponto. Essa é uma leitura que deveria ser inserida em todas as escolas, pois além de ser um livro sobre mulheres importantes da história e suas lutas, é um livro acima de tudo de conhecimento e história da humanidade. O que seria da gente se não fosse por mulheres como elas que conquistaram tudo a base de muito suor? Representatividade é importante. Gostaria que minha sobrinha pudesse ler um livro como esse na escola. Gostaria de ter lido esse livro na época que estudava, mas já que isso não foi possível, pretendo lê-lo em breve. Bjos

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    1. Também gostaria de ter conhecido essas mulheres antes. Mas depende de nós apresenta-las as novas gerações. Leia, tenho certeza que ira adorar! Obrigada :*

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