Resenha: As Três Marias, de Rachel de Queiroz

No inicio do ano tracei uma meta para ler os livros que eu não queria ler. Aqueles livros que ganhei ou comprei em um momento de empolgação e que foram deixados de lado. Já fugi total dessa meta porque não funciono bem com regras, e o ultimo que li dessa leva foi “As Três Marias”. Uma leitura um pouco morna, mas com um tema interessante.



Editora: José Olympio
Edição: 7 / Ano: 1973
Páginas: 199
☆☆☆

Sinopse: Em seu quarto romance, As três Marias, a escritora cearense Rachel de Queiroz foi ainda mais fundo em um tema que já estava presente em todas as suas obras anteriores: o papel da mulher na sociedade. A história tem início nos pátios e salas de aula de um colégio interno dirigido por freiras: Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José são amigas inseparáveis que ganham de seus colegas e professores o apelido de "as três Marias". À noite, deitadas na grama e olhando para o céu, as meninas se reconhecem na constelação com a qual dividem o nome. A estrela de cima é Maria da Glória, resplandecente e próxima. Maria José se identifica com a da outra ponta, pequenina e trêmula. A do meio, serena e de luz azulada, é Maria Augusta - ou simplesmente Guta, como sempre preferiu ser chamada.
Na cama – tudo calado – (...) minha tristeza afinal explodiu, e chorei, chorei até esgotar todos os soluços, todas as lágrimas, chorei até dormir, exausta, desarvorada, rolando a cabeça dolorida, sem repouso, no travesseiro quente e duro.
Maria Augusta é uma menina de 12 anos que perdeu a mãe bem cedo e o pai acabou casando novamente. Sua madrasta a trata bem, mas decide mandá-la para um colégio interno. Guta chega nesse lugar novo carregada de estranhamento, saudade de casa e alvo da curiosidade de outras meninas. Com o passar dos dias ela conhece Maria da Gloria e Maria José, e as três desenvolvem um forte laço de amizade, mesmo tendo suas diferenças. Cercadas pelos muros do internato, elas dividem sonhos, expectativas e até a sensação do primeiro amor. Então a vida adulta chega e elas precisam sair, viver, e lidar com as expectativas que criaram e a dureza do mundo real. 
Ele começou a namorar com Glória, logo que entendeu os olhos com que o olhava, e foi como se nos namorasse a todas, porque todas a três começamos a amá-lo, embora Maria José e eu nunca o tivéssemos visto.
O livro é cheio de personagens femininas, e cada uma, por menor que seja a aparição na historia, tem suas particularidades e contribuem para a proposta de Rachel que é mostrar o papel da mulher na sociedade. Se hoje esse tema está sendo amplamente discutido, mesmo que ainda encontre um pouco de resistência, fazer isso em 1939 foi algo muito corajoso. O livro nos mostra que nem toda mulher quer casar, ter filhos e cuidar da casa. Ela pode querer só trabalhar, se aventurar e ter apenas responsabilidades consigo mesma. Mas a sociedade não estava pronta para essa mulher, e ainda hoje duvido que esteja. Fica claro que só existem três posições para a mulher: casamento, religiosidade ou prostituição. De um lado temos a ideia bonita de casamento, do outro lado temos os casamentos desfeitos, seja por abusos do homem para com a mulher, ou porque esse abandonou a casa e foi viver com outra. Mas parece não importar muito o que o homem faz, desde que a mulher permaneça dentro de casa cuidando dos filhos. Nada de novo.
Menina-e-moça me tiraram do ninho quente e limitado do colégio – e eu afinal conheci o mundo. Depois das férias que se seguiram aos diplomas, via-me afinal na cidade, instalada, defendendo a vida.
Além da crítica social, Rachel também nos mostra sua terra natal. O livro é ambientado no Ceará, passando do sertão até a capital, Fortaleza. E se você já esteve no Ceará, vai ser impossível não sentir saudade da terra da luz. 

O livro é narrado em primeira pessoa por Guta, e a nossa narradora não é egoísta ou do tipo que só lamenta. Conseguimos ter uma visão bem honesta de todos os personagens, e cada personagem é tão verdadeiro que dá pra saber quem falou o quê mesmo retirando o diálogo do contexto. São personagens com características próprias. 

Rachel tem uma escrita muito clara e direta, e sabemos o desfecho de cada personagem (até onde é possível saber) sem muita enrolação. Embora eu tenha achado a história um pouco parada em alguns momentos, recomendo a leitura. Não por entretenimento, mas pelo valor histórico e social.

Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.

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