Livro de Quinta: Duas Mil e Uma Noites, de Isaías dos Passos
Já faz um tempo que não rola um “Livro de Quinta”, espaço que reservei para "falar mal" de livros. Mas não foi por falta de livro ruim, não. Foi esquecimento mesmo. Às vezes a leitura é tão desagradável que a gente acaba esquecendo o livro. Foi o que aconteceu com “Duas Mil e Uma Noites”, cujo título e capa passam uma ideia bem errada sobre o conteúdo.
Editora: Batel
Edição: 1 / Ano: 2008
Páginas: 128
☆☆
SINOPSE: Um mosaico de contos e parábolas forma a estrutura narrativa de Duas mil e uma noites. Uma trama costurada pela inserção do personagem Idos em vários capítulos, e, ao final, arrematada de forma surpreendente. Uma obra para se refletir sobre os acasos da vida, sobre as relações com as pessoas que nos cercam e as que surgem ao longo de nossa existência.
Olha pra essa capa e esse titulo, e me diz se você não associou esse livro ao clássico “As Mil e Uma Noites”? Eu jurava que era uma releitura, uma obra com contos árabes, mas, para minha decepção, não é nada disso.
Sempre penso que um bom conto é aquele que conta uma história que nos faz refletir sobre algo. Se eu escrever “hoje o gato acordou cedo e usou a caixa de areia”, o que isso quer dizer? O que isso acrescenta a vida do leitor? E logo no início desse livro eu me deparei com “Cuidado com o gato. Quando alguém puser água para o gato beber, é bom lavar as mãos. O João, um amigo meu, possuía uma mancha no braço – não teria ele pegado aquela mancha do seu gato? Cuidado com papagaio, com cavalo, com tudo. Quando alguém for andar a pé, é bom olhar para o chão, pode ter uma lacraia ou um escorpião. Nunca se deve beber água turva, pode ter micróbio. A clara – a água clara também – cuidado também com ela”. E isso é tudo. Um conto. OK, pode ter sido um texto irônico sobre o excesso de cuidado, do tipo "no meu tempo era assim e ninguém morreu", mas não ficou bom.
São poucos os contos com algo que remeta a cultura árabe. Pouquíssimos. E mesmo esses não são interessantes.
Mas, como em tudo na vida, a gente sempre pode encontrar algo bom até nas coisas ruins. E no caso desse livro, destaco dois contos que gostei: Uma Rosa Para Yasmine e O Ermitão do Monte.
O primeiro é uma historia de amor e infortúnio vivida por dois jovens no deserto da Pérsia. Esses jovens são Yasmine, filha única de um sultão poderoso que dominava a região, e Ashraz, apenas um homem do deserto. Pela desigualdade social, o amor dos dois é impossível. Uma historia clichê, mas bonita.
Já o segundo fala de um homem estranho, que vivia isolado de tudo, sem nome e sem parentes. Só duas pessoas o conheciam, Jerônimo e Nicanor. Por serem caçadores, adentravam em qualquer lugar difícil, e assim conheceram o Ermitão que morava numa floresta quase inacessível. O Ermitão dormia durante o dia e levantava a noite, quando ficava vagando do quarto para a cozinha com uma lamparina até o dia amanhecer. Falava coisas sem nexo, como “jacaré da lagoa”, “pai nem mãe”, “Fortunato”, coisas assim, e os caçadores acreditavam que isso estava ligado a alguma catástrofe que o Ermitão sofreu. É uma história sem muita profundidade, mas que causa reflexão e de certa forma me tocou.
Levando em consideração esses contos, dei duas estrelas. Mas se eu pudesse voltar atrás não teria comprado. Respeito o trabalho do autor, sei da dificuldade de publicar um livro, mas a proposta do livro é muito fraca.
Mas eu defendo sempre que não existe coisa bonita e feia, boa ou ruim. Tudo é uma questão de interpretação, e interpretação tem a ver com bagagem. Bagagens diferentes, interpretações diferentes. Talvez a minha bagagem não seja a ideal para entender esse livro, mas ele pode ser uma leitura maravilhosa para outra pessoa com outra bagagem. O que foi dito aqui é apenas uma opinião informal, não um veredicto ;)
Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.