Resenha: O Menino do Pijama Listrado, de John Boyne
Conhece a expressão “o santo não bate”? Foi mais ou menos isso que aconteceu com esse livro. Ganhei de presente em algum natal e não me empolgou, mesmo sendo um best seller super aclamado. Ele ficou um tempão na minha estante e só li por insistência de uma amiga. Meu “santo” estava certo.
Editora: Cia. das Letras
Edição: 0 / Ano: 2013
Páginas: 192
☆☆☆
SINOPSE: Bruno tem nove anos e não sabe nada sobre o Holocausto e a Solução Final contra os judeus. Também não faz ideia que seu país está em guerra com boa parte da Europa, e muito menos que sua família está envolvida no conflito. Na verdade, Bruno sabe apenas que foi obrigado a abandonar a espaçosa casa em que vivia em Berlim e a mudar-se para uma região desolada, onde ele não tem ninguém para brincar nem nada para fazer. Da janela do quarto, Bruno pode ver uma cerca, e para além dela centenas de pessoas de pijama, que sempre o deixam com frio na barriga.
Em uma de suas andanças Bruno conhece Shmuel, um garoto do outro lado da cerca que curiosamente nasceu no mesmo dia que ele. Conforme a amizade dos dois se intensifica, Bruno vai aos poucos tentando elucidar o mistério que ronda as atividades de seu pai. O menino do pijama listrado é uma fábula sobre amizade em tempos de guerra, e sobre o que acontece quando a inocência é colocada diante de um monstro terrível e inimaginável.
O mote da história é super interessante e eu gosto de tramas ambientadas em cenários de guerra. Acho uma forma bacana de conhecer o período em questão. Para mim, o livro tinha tudo para ser uma baita leitura, mas fiquei com a sensação que o autor não soube aproveitar uma ideia muito boa.
Não torne as coisas piores, pensando que dói mais do que você realmente está sentindo.
O livro é narrado por Bruno, que tem nove anos. Todo o tempo temos a visão dele sobre os fatos, o que é usado para nos passar uma inocência infantil, mas não convence. A inocência forçada só faz Bruno parecer um bobo. Não dá para acreditar que uma criança de nove anos, na Alemanha nazista, seja alheia a todo o caos que está a sua volta, não saiba quem é o Füher e o que ele representa. Fica ainda mais difícil acreditar quando essa criança é o filho de um comandante do exército nazista responsável pelo campo de concentração de Auschwitz. Quando ele fala “Fúria” ou “Haja Vista”, eu só consigo pensar “qual criança de uma família com boas condições financeiras, que recebe um bom estudo, não sabe pronunciar as palavras corretamente?”. Se ele tivesse seis anos, talvez fosse convincente.
Para piorar, a narrativa é muito repetitiva. Bruno acha sua irmã um “caso perdido”, e sempre fala dela usando o termo “caso perdido”, e usa a mesma repetição com outras coisas da sua rotina, como “Karl e Daniel e Martin”, “ficar na ponta dos pés” e “entrar a todos os momentos sem exceção”. Às vezes eu tinha dúvida se estava lendo a mesma coisa que já havia lido na página anterior.
Como só temos a visão de Bruno, os demais personagens não são bem explorados, ficando de maneira muito rasa as motivações de cada um. Algumas situações ficam subentendidas e cabe ao leitor interpretar. Não consegui estabelecer conexão com os personagens, exceto com o Shmuel, que conseguiu passar tristeza e dor. Só tinha vontade de abraçar o garotinho, e só de pensar nas falas dele eu já me emociono.
... temos que procurar fazer o melhor de uma situação ruim.
Arrastei um pouco essa leitura, mesmo sendo um livro com poucas páginas, e só consegui concluir depois que vi o filme. E preciso dizer que achei o filme melhor, mais dinâmico, sem muitos detalhes que não acrescentam nada a história de amizade dos dois garotos, que é o que realmente importa. É um livro com um final emocionante, muito sensível e triste, mas parece que o autor só pensou na conclusão e saiu escrevendo a história até lá de qualquer forma, apenas para mostrar um bom final.
Mesmo com tantos pontos negativos, considero um bom livro. Embora não seja classificado como infanto-juvenil, acredito que seja uma leitura ideal para esse público. Tem a sua importância em retratar um momento cruel da nossa história que não pode ser esquecido, e de mostrar isso através de uma amizade entre “inimigos”. Com essa amizade o autor nos fala algo que todos deveriam saber: somos todos iguais. As diferenças não existem para sermos superiores, ou vermos o diferente como inimigo, porque no fim de tudo, choramos, sangramos e morremos da mesma forma.
Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.
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