Resenha: O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë

O Morro dos Ventos Uivantes é um livro que nunca chamou minha atenção, seja pelas capas que eu via e não gostava, como também pela sinopse que nunca compreendi.

Na mudança não pude levar todos os meus livros, então escolhi apenas três para me acompanharem na nova fase, e O Morro dos Ventos Uivantes foi um deles. Não faço ideia do motivo que me fez escolher o livro, mas foi uma das melhores escolhas que fiz nos últimos tempos, que resultou em uma leitura que me marcou profundamente.


Editora: Abril
Edição: 1 / Ano: 1971
Páginas: 313
☆☆☆☆☆ ♡

SINOPSE: A obra conta a história da paixão entre Heathcliff e Catherine na fazenda chamada Morro dos Ventos Uivantes. Amigos de infância, eles são separados pelo destino, mas a união do casal é mais forte do que qualquer tormenta — um amor proibido que deixará rastros de ira e vingança.

Ao regressar de uma viagem, o Sr. Earnshaw traz uma criança, um menino, que encontrou perdido e sozinho. Ele é descrito com a aparência de um cigano, tez escura e cabelos negros, com traços opostos aos da família que o recebia. Foi batizado com o nome de Heathcliff, e cresceu com a afeição do patriarca, a amizade de Catherine e a perseguição de Hindley, que não se conformava em ser “substituído”. Com a morte do Sr. e da Sra. Earnshaw, Hindley toma conta da propriedade e coloca Heathcliff como empregado, o sujeitando a várias humilhações. Mesmo tendo sua posição rebaixada e uma lista de afazeres diários, Heathcliff e Cathy, como ele a chamava carinhosamente, nunca mudaram sua relação e não deixaram de passear, correr e rolar como selvagens pelos campos. Um incidente afasta Cathy por alguns meses do Morro dos Ventos Uivantes, como a propriedade é chamada, e ela fica sendo cuidada na casa dos Linton. Ao voltar, ela não é mais a mesma. Assumiu a postura ideal para uma moça da sua idade, com aparência sempre impecável e com novos amigos do seu mesmo nível, e, mesmo amando Heathcliff, precisa escolher o que é melhor para seu futuro e posição social. As atitudes de ambos, embora cheias de amor, acabam dando espaço para sentimentos como magoa, ira e vingança, que irão atingir até as futuras gerações.

O livro começa a ser narrado pelo Sr. Lockwood, locatário do Sr. Heathcliff. Ao viver uma experiência sobrenatural em uma visita ao Morro dos Ventos Uivantes, ele divide a narração com Ellen Dean (Nelly), empregada da casa que conhece toda a história daqueles que ali moram, e resolve contar tudo ao rapaz enquanto ele se recupera de uma doença que desenvolveu desde a noite fatídica. Os capítulos são longos, mas a narração é dinâmica e as paginas voam. Não há enrolação, e nem mesmo os diálogos são cansativos. Pelo contrário, são inteligentes e com trechos que merecem destaque.
Minhas grandes infelicidades neste mundo têm sido as infelicidades de Heathcliff. Aguardei-as e senti-as todas desde sua origem. É ele a minha grande razão de viver. Se tudo perecesse, mas Ele ficasse, eu continuaria a existir. E, se tudo permanecesse e ele fosse aniquilado, o mundo inteiro se tornaria para mim uma coisa totalmente estranha. Eu não seria mais parte desse mundo. Meu amor por Linton é como a folhagem dos bosques: o tempo o transformará, estou bem certa, como o inverno muda as árvores. Meu amor por Heathcliff assemelha-se aos rochedos imotos que jazem por baixo do solo: fonte de alegria pouco aparente mas necessária. Nelly, eu sou Heathcliff!
O que também ajuda as paginas a voarem é a riqueza da história. Emily não é de grandes descrições de locais e objetos, mas foi brilhante em descrever emoções. Elas quase saltam das páginas. Ciúmes, preconceito, orgulho, ira, loucura… Está tudo lá, e você vai sentir.

O que torna O Morro dos Ventos Uivantes um livro marcante é que ele não é um romance comum, cheio de amor e declarações clichês, ou com mocinhos e vilões bem definidos. Não há mocinhos ou vilões. São todos humanos acertando e errando (errando mais do que acertando). São personagens complexos, fortes, alguns submissos, conformados, mas todos cheios de personalidade. Eu poderia acertar todos os personagens desse livro só lendo uma breve descrição de cada um.
O mundo inteiro é uma terrível coleção de testemunhos que me recordam que ela viveu e que eu a perdi!
Assim que comecei a ler, um amigo me apresentou uma música da Kate Bush que fala sobre essa louca história de amor, o que só aguçou minha curiosidade. No meio da leitura já comecei a pesquisar por adaptações cinematográficas da obra, e resolvi assistir a versão de 1992. Fiquei encantada! Foram dias obcecada e só respirando essa trama incrível.

Há quem fale de relacionamento abusivo, de doença, de sentimento de posse, mas é difícil analisar um romance tão antigo, de um tempo tão diferente do nosso. Prefiro ver Heathcliff como um infeliz, que foi privado de tudo que uma ser precisa para viver dignamente, e, por fim, perdeu a única pessoa que amou e que também o amava. Não podendo mais ter amor, só lhe restou odiar todos aqueles que julgou culpados pela separação de sua amada. Um sentimento tão forte que foi capaz de destruir vidas, inclusive a do próprio Heathcliff.

Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.

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