Resenha: As Mais Belas Histórias das Mil e Uma Noites, de Arnica Esterl

O Dia Internacional da Mulher foi ontem, mas hoje também é dia da mulher, e amanhã também será. Enquanto existirem mulheres, todo dia será nosso dia. 

Não fiz um post comemorativo porque não sou apegada a datas (nem mesmo do meu aniversário), e acho muito mais importante falar de mulheres e fortalecer mulheres todos os dias. Tenho um projetinho sobre mulheres na literatura, cujo objetivo é ler mais mulheres. Ainda estou ordenando as ideias, mas espero divulgar aqui em breve. 

Toda essa introdução é para mostrar o livro da nossa resenha, que foi escrito e ilustrado por mulheres. Em As Mais Belas Historias das Mil e Uma Noites Arnica Esterl reconta algumas historias do clássico As Mil e Uma Noites, e Olga Dugina complementa essas historias com ilustrações belíssimas. Um livro que consegui através de uma troca no Skoob, e que acabou virando um queridinho na minha estante. 



Editora: Cosac Naify
Edição: 1 / Ano: 2007
Páginas: 88
☆☆☆☆

SINOPSE: As cinco histórias aqui reunidas neste clássico da literatura são protagonizadas por reis justos, princesas virtuosas, ladrões torpes e animais sagazes. Em Sherazade, uma inesgotável capacidade narrativa dribla o furor da desilusão do Rei para com as mulheres; em Ali Babá e os quarenta ladrões, a discrição de um irmão - somada à astúcia sem limites de sua criada - fazem-no acumular riquezas, enquanto a cobiça e a inveja do outro o aniquilam; em Do Boi e do Burro, dois animais disputam em esperteza, num duelo encantador; e ainda em O cavalo de ébano encontram-se princesas "belas como jardins floridos e brilhantes como a Lua em noites sem nuvens", príncipe corajoso, cavalo voador e vilão feio como "um avental amassado de um sapateiro". As mais belas histórias das Mil e uma Noites é um livro cujas imagens permanecem tão belas e misteriosas quanto às primorosas ilustrações de Olga Dugina, que conferiu delicadeza e criatividade na dose certa. Ler suas aventuras é transportá-lo para dentro de si. 

Arnica começa nos contando a história do rei Chariar que, após descobrir ser traído, manda executar sua esposa e todos os escravos que participavam da orgia. A vingança não trouxe paz ao seu coração, e ele decide que todo dia terá uma noiva, que deve ser executada na manhã seguinte a noite de núpcias, “pois não há fidelidade nem dignidade entre as mulheres”. Durante três anos houve esse derramamento de sangue e muitas famílias perderam mais de uma mulher. É nesse momento que Sherazade entra na história decidida a mudar esse posicionamento do rei e poupar a vida de outras mulheres. 

As histórias seguintes são as que Sherazade conta ao rei a cada noite, despertando seu interesse e assim poupando sua vida. Foram muitas histórias, mas nesse livro veremos apenas três: Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Do Boi e do Burro e O Cavalo de Ébano. 

Por fim, temos Como Termina a História de Sherazade. É a história mais curtinha do livro, ocupando apenas uma página. Após três anos contando histórias todas as noites, Sherazade tem um pedido a fazer ao rei que pode mudar a vida de ambos e de todo o reino.


Nunca tive interesse em ler As Mil e Uma Noites, e boa parte do meu desinteresse é porque sempre achei uma história machista. Essa leitura confirmou isso. Um rei que mata a esposa porque foi traído e, não satisfeito, mata centenas de mulheres após usá-las, que fique bem claro, porque não consegue mais confiar. Algumas histórias que Sherazade conta também são um pouco machistas. 

Ok, era algo natural na época, e em muitos países, até hoje, práticas semelhantes são defendidas como “cultura”, mas é impossível ler e não lembrar quantas moças pelo mundo são obrigadas a casar, muitas ainda crianças, com homens bem mais velhos. Mulheres acusadas de adultério e condenadas a morte. Mulheres que não tem direito a liberdade de viver suas vidas. 

Mesmo com todo o machismo, ainda é a história de uma mulher que resolveu arriscar a própria vida para poupar a vida de outras mulheres. Uma mulher inteligente, que confiou na sua astucia para cessar um conflito.



O trabalho da Cosac com essa edição está impecável. O livro tem poucas páginas, mas é grande e com capa dura. O texto é distribuído em duas colunas, e todas as páginas possuem ilustrações de Olga Dugina, que são verdadeiras obras de arte. Gostaria de mostrar todas as ilustrações, mas é possível ver mais do trabalho da Olga em seu site duginart.com

Considero uma leitura muito boa pelo valor histórico. São histórias que existem a mais de mil anos, que nos transportam para outro mundo com fantasia e aventuras. E mesmo com situações questionaveis para o nosso tempo e sociedade, tem boas lições. Especialmente as lições implícitas, que surgem com a nossa conscientização.

Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.

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