Resenha: A Diaba e Sua Filha, de Marie NDiaye

Já falei que não leio resenhas de livros que pretendo ler, né? Mas vou muito além, não leio nem as especificações, nem mesmo quando estou comprando/pesquisando. E isso tem gerado algumas decepções. O livro da resenha de hoje foi uma delas. Mas a leitura compensou minha frustração.

Vamos saber mais sobre A Diaba e Sua Filha? Vamos!


Editora: Cosac Naify
Edição: 1 / Ano: 2011
Páginas: 40
☆☆☆

Sinopse: A atmosfera noturna dá à história da autora franco-senegalesa Marie NDiaye um caráter sombrio e misterioso. O sincretismo de NDiaye ecoa em seu texto, mescla de metáforas dos contos de fada tradicionais e de elementos da literatura africana. No livro, uma diaba sai todas as noites da floresta à procura de sua filha que desapareceu misteriosamente, junto com a casa onde moravam. Foi quando a diaba percebeu também que seus delicados pés haviam se transformado em cascos de cabra – deformidade que causa repulsa nas pessoas. A ambiguidade da personagem – alegoria da noite –, de face graciosa, olhos doces, mas com cascos no lugar dos pés, suscita no leitor alguma hesitação e muitos questionamentos. Um livro enigmático que nos convida a refletir sobre como o afeto é capaz de humanizar até a aparentemente mais aterrorizante criatura e sobre a importância de se respeitar as diferenças, visíveis e invisíveis.

Como esse livro é bem pequeno (não se engane com as 40 páginas, porque além de ser pequeno, as letras são grandes e ainda possui ilustrações), não vou me estender muito na introdução porque a sinopse já faz isso. O resumo é esse: uma Diaba mora na floresta e sai todas as noites em busca de sua filha, mas não consegue ajuda porque as pessoas tem medo ao ver seus pés, que são na verdade cascos de cabra. Um dia ela decide que irá pegar qualquer criança para ser sua filha. Nesse mesmo dia o povo da aldeia expulsa uma menina que tem os pés deformados, por acreditarem que ela é a filha da Diaba e que pode se tornar uma Diaba também. Então esses dois seres, alvo de preconceito, se encontram e faz você refletir sobre muita coisa.

Esse é um livro que causa bastante suspense, a começar pelo titulo. Foi esse o motivo que me levou a comprá-lo. Eu não sabia que se tratava de uma obra infantojuvenil, e achei isso muito especial. Estamos acostumados a ver livros infantis com bastante colorido e pouca abordagem de assuntos sérios e essenciais para a formação do indivíduo. Marie NDiaye quebra esse costume trazendo uma leitura que aborda preconceito, adoção e, acima de tudo, humanidade.

Quem assina a orelha do livro é Mia Couto, e ele nos diz o seguinte:
NDiaye escreve sobre os nossos medos e o modo como eles são colectivamente construídos. Escreve sobre a necessidade de classificarmos os outros e os arrumarmos em bons e maus, em anjos e monstros. Nestas páginas se inscreve, enfim, a facilidade em culparmos e diabolizarmos os que são diferentes e o modo como os sinais de aparência (no caso, os pés de cabra) se erguem como marca de fronteira entre os "nossos" e os "do lado de lá".
Há uma necessidade de classificar as pessoas, e essa classificação muitas vezes se dá por julgamentos prévios, por motivos banais. Julgamos anormal qualquer coisa diferente de nós ou daquilo que estamos acostumados. São preconceitos enraizados. É esse preconceito que impede as pessoas de ouvirem a Diaba e tentarem ajudá-la. Um preconceito que não permite se colocar no lugar do outro e sentir seu sofrimento e desespero por não encontrar a filha.

Por outro lado, temos um ser diabolizado disposto a dar amor a uma criança deformada, e uma criança livre de preconceito, que olha para esse ser e vê o seu melhor, sua face graciosa e seus olhos doces. Ambas, alvo de julgamentos errôneos, encontram juntas uma renovação, e nos dão uma lição de humanidade (item em falta nos dias atuais).

Um ponto forte do livro são as ilustrações de Nadja Fejto, em tons de azul e sem muita definição, que só reforça a atmosfera de suspense.



A edição é impecável, como é de se esperar da finada Cosac Naify. As folhas possuem boa gramatura, são amareladas, o que casou muito bem com o texto em azul marinho. Um livro simples, e ao mesmo tempo muito rico, que considero importante ler pelo menos uma vez na vida, e repensar sobre como lidamos com o outro.

Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.

11 comentários:

  1. Oi Lene, Tudo bem? Eu já comprei vários livros e a grande maioria ou foi por gostar da capa, (risos) ou da sinopse. Alguns me decepcionaram em alguns pontos, mas foram a minoria. Gostei da sua resenha! Eu compraria esse livro só em ler a orelha assinada pelo Mia Couto. É Encantador como ele faz uso das palavras. Um poeta nato! Parabéns pela resenha! Vá Além!

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    1. Olá Gerson!

      Hoje com a internet tem muto disso, né? O site nos dá algumas especificações, mas nunca temos 100% de certeza do que vamos receber. As vezes gosto disso, mas as vezes as surpresas são desagradáveis, rs...

      Muito obrigada pelo comentário carinhoso :)

      Abraço!

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  2. Eu gostei muito das ilustrações do livro, e eu também não gosto de ler resenhas ou as especificações dos livros que eu pretendo ler. Gosto de ser surpreendida, nem sempre sou surpreendida para o bem, mas ok rs

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    1. O preço da surpresa, né? kkk... Obrigada pelo comentário. Beijo!

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  3. Quando comecei a ler achei que era um livro sobre suspense e terror, mas depois vi que era totalmente diferente, e outra, é um livro infantil. Que linda história; que linda abordagem; que maravilhoso o pensamento na história. Sua resenha ficou ótima. Consegui conhecer a história sem mesmo lê-la.
    Sim, acho que deveria ser obrigatória a sua leitura por todos. Eu toco neste ponto quase sempre: as pessoas pecisam de mais humanidade, compaixão e empatia.
    Mesmo depois de sua ótima resenha, quero e vou lê-lo!

    Obrigada pela indicação!

    Beijos. :*

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    1. Eu adoro um suspense, e foi o que me levou a comprá-lo, mas a real historia foi uma grata surpresa.

      Muito obrigada pelo comentário tão gentil :)

      Beijo!

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  4. Oi Lene! Já houveram situações que eu comprei livros apenas porque gostei da capa, o título me chamou a atenção, na maioria das vezes não tenho me decepcionado. Gostei bastante da sua indicação, e acredito que vale a pena a leitura. Se eu tiver oportunidade, estarei lendo também, bjooooooooo

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    1. As vezes vale a pena arriscar um livro, né? Espero que leia e goste tanto quanto eu :)

      Beijo!

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  5. É difícil eu comprar algo livro no escuro assim, sempre leio alguma coisa sobre, que corajosa rs
    Gostei muito da sua resenha, faz tempo que não leio um livro nesse estilo. Gostei da premissa.

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    1. Eu evito ler porque tenho medo de ser influenciada, rs... Já deixei de comprar livros porque vi uma resenha ruim, por exemplo. Hoje só leio a sinopse e vejo a media no Skoob para ter uma ideia :)

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  6. A compra foi decepcionante, mas a leitura compensou. Eu esperava um livro maior, em tamanho e historia. A decepção com o tamanho foi culpa minha, que não as especificações no ato da compra. Já o volume é algo recorrente. Pegam um conto e lançam um livro, quando o mesmo poderia ser inserido em um livro de contos. Levando em conta essas questões, eu não pagaria o preço que cobram nele. Mas em todo caso, a edição é bonita e a leitura é boa. Não pagaria, mas reconheço o valor.

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