Resenha: Ismália, de Alphonsus de Guimaraens
A Cosac Naify sempre foi conhecida pelo seu belo trabalho editorial, mas eu só atentei para isso quando ela anunciou seu fechamento. Nesse momento precisei correr contra o tempo para adquirir todos os livros que queria da editora. Alguns supervalorizaram, ficando inviável a compra, mas outros ainda dá para conseguir por um preço justo. Ismália é um desses. Só consegui comprá-lo esse ano e valeu cada centavo.
Editora: Cosac Naify
Edição: 2 / Ano: 2014
Páginas: 48
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SINOPSE: Um pequeno livro, raro, quase artesanal: Ismália é um projeto especialíssimo do artista Odilon Moraes, que deu ao célebre poema de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) uma leitura extremamente autoral e o transformou em cor, tato e movimento neste livro-objeto. Ele vem dentro de uma caixinha, cabe na palma da mão, tem uma capa revestida de tecido e suas páginas se emendam como uma sanfona. Ao abri-lo, o leitor é convidado a mergulhar em imagens - lindas aquarelas em tons de marrom - que desdobram, quadro a quadro, os versos do grande poeta mineiro. Embora o poema não tenha sido originalmente escrito para crianças, esta obra introduz os leitores no universo poético com uma poesia que se pode pegar com as mãos. Um autêntico livro-poema.
Ismália é um poema de Alphonsus de Guimaraens, um escritor mineiro. Sei quase nada sobre ele, e acredito não ter lido nada dele além desse poema, mas transcrevo abaixo um trecho da biografia que explica um pouco da sua obra.
A poesia de Alphonsus de Guimaraens é marcadamente mística e envolvida com religiosidade católica. Seus sonetos apresentam uma estrutura clássica, e são profundamente religiosos e sensíveis na medida em que explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da inadaptação ao mundo. Contudo, o tom místico imprime em sua obra um sentimento de aceitação e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Outra característica marcante de sua obra é a utilização da espiritualidade em relação à figura feminina, que é considerada um anjo, ou um ser celestial. Alphonsus de Guimaraens é simultaneamente neo-romântico e simbolista. Sua obra, predominantemente poética, consagrou-o como um dos principais autores simbolistas do Brasil. Sua poesia é quase toda voltada para o tema da Morte da Mulher amada.
“Quando Ismália enlouqueceu, pôs-se na torre a sonhar...”, assim começa o poema de Alphonsus, que fala de uma mulher que vê a lua no céu e o seu reflexo no mar, e deseja ter as duas luas. É um poema melancólico que trata de suicídio. Mas a loucura de Ismália também pode ser vista como uma libertação. O desejo pelo inantigível e o salto para aquilo que deseja. Sei que é um perigo romantizar suicídio, mas tento sempre ler esse poema com a mente bem aberta.
Sei que é repetitivo falar que o trabalho gráfico da Cosac Naify é incrível, mas não dá para falar menos que isso. Essa edição vem em uma espécie de caixinha que acomoda o livro perfeitamente. Essa caixinha tem informações como título, autor e ilustrador, como em uma capa. O livro é de capa dura com um pequeno desenho da Ismália em dourado. Muito bem feito e delicado.
O detalhe mais legal do livro é que ele é sanfonado no formato vertical, nos passando a sensação de queda. O livro também é ilustrado com aquarelas de Odilon Moraes. Em tons de marrom, as ilustrações reforçam o cenário dramático do poema.
Ismália é um poema com apenas 20 versos, e eu nunca imaginaria adquirir um livro tão curto e com um conteúdo de fácil acesso na internet, mas a qualidade da edição faz toda a diferença. Faz também com que eu queria que mais poemas sejam transformados em livros. Mas qual editora ativa no mercado editorial faria um trabalho tão lindo quanto a Cosac Naify fez com esse poema?
Não lembro ao certo quando li Ismália pela primeira vez (acredito que foi no ensino médio), mas desde então ele me causa fascínio. Tenho certeza que causará o mesmo em você, e que essa edição linda também irá conquistar seu coração.
Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.
Obs.: As fotos desse post são de autoria de Lene Colaço. É permitido compartilhar, desde que as imagens não sejam editadas e dê os devidos créditos.